“CARTA DE SALVADOR
Prezados e prezadas,
Esta carta tem vários emitentes e vários destinatários. Daí a sua impessoalidade. Pela relevância dos temas aqui abordados, não poderia ser diferente.
A mudança é a lei da vida. As pessoas e as empresas precisam mudar, ajustar-se à realidade fática. Isso nada mais é do que adaptação à lei da vida na busca pela sobrevivência. Ainda não somos (pessoas e empresas) “imortais”.
A nossa Diretoria, a partir de seus estudos e da necessidade de mudança pelos mais variados motivos, como a estagnação cíclica do modelo atual, a busca da eficiência operacional, aumento da produtividade e a geração de resultados sustentáveis, com o aval do corpo dirigente do banco, optou em realinhar a sua estrutura de cobrança e recuperação. Até esse momento, um ato de gestão e planejamento estratégico, perfeitamente compreensíveis.
Porém, há que se considerar um outro aspecto da mudança, tão importante quanto os motivos que a levaram-na: as pessoas, os seres humanos. Os verdadeiros agentes transformadores e validadores de todo processo de mudança.
A nossa empresa tem apregoado aos quatro cantos, seu compromisso com os mais altos valores insculpidos nas normas legais, na sua cultura organizacional. Um desses seus compromissos é externado através daCARTA DE PRINCÍPIOS de RSA do Banco do Brasil que em um de seus itens testifica: “Ter a transparência, a ética e o respeito ao meio ambiente como balizadores das práticas administrativas e negociais da Empresa”. Em outro item tão e quão importante atesta: “Repelir preconceitos ediscriminações de gênero, orientação sexual, etnia, raça, credo ou dequalquer espécie; e como corolário desses itens, o que assegura “Atuarem consonância com valores universais, tais como: direitos humanos,princípios e direitos fundamentais do trabalho, princípios sobre meio ambiente e desenvolvimento. Poderia um sem número de princípios serem aqui listados, mas não é o caso. Vamos ao cerne do objetivo dessa epístola: O Processo Seletivo. O Recrutamento de pessoas para execução dessas mudanças.
Calcado nessas premissas e princípios que o banco afirma e divulga defender/buscar incessantemente, não nos parece lógico acreditar que esses valores foram colocados à prova no processo seletivo que se deu na Gerat Salvador.
O que se espera de um processo seletivo? No mínimo, transparência, igualdade de oportunidades, ética e respeito aos concorrentes. Observem que não queremos entrar no mérito das pessoas, mas não podemos fechar os olhos para o que ocorreu.
Esses princípios não foram observados. O processo foi dirigido, direcionado e já antevíamos como se daria a alocação de alguns colegas, digamos ¨privilegiados¨. Chegamos a registrar a situação com bastante antecedência. Todos os outros concorrentes aos cargos na unidade foram atropelados, sem a oportunidade de ao menos serem entrevistados, mesmo que fosse apenas para dar aparência de regularidade ao processo, enquanto outros participavam de reuniões e audioconferência a portas fechadas. Os demais já estávamos rotulados, carimbados. Quais os critérios foram adotados?
Aqui, não se pretende dizer que os preteridos na seleção são melhores qualificados para as funções em questão, mas sim demonstrar que foram ignorados, sem a oportunidade de ao menos participarem efetivamente do processo seletivo. De terem as suas qualidades e defeitos analisados e que fossem expostos de forma clara, os motivos pelos quais foram “desclassificados”. A simples frase: “não se encaixa no perfil” não é suficiente para encerrar um processo seletivo e pedagógico que envolve funcionários que se dedicaram anos à empresa e que terão agora, de uma hora para outra, suas vidas completamente abaladas por uma mudança drástica. Diante do que ocorreu restou claro que alguns integrantes da equipe já estavam carimbados desde o início e não seriam selecionados, simplesmente, porque já teriam ultrapassado o parâmetro de idade desejado ou que não tivesse a rede de relacionamentos necessária à sua indicação.
Queremos, com isso, deflagrar choques de ética, de respeito e lealdade para com os colegas de profissão. Que os colegas, a partir dessa narrativa possam indignar-se contra este estado de hipocrisia e desrespeito para com os valores e compromissos defendidos pelo Banco do Brasil e reajam. Nunca se saberá quem será o próximo da lista. Esse modelo é nefasto e atentatório ao princípio da dignidade humana. Os “legitimadores” de hoje serão as vítimas de amanhã. Esse modelo precisa ser descontinuado.
Sabemos que fomos vitimados por atitudes mesquinhas e agredidos em nossa honra e dignidade para a vida laboral.
É preciso que gestores e demais colegas que não compactuam com essa lógica perversa, lutem para reverter o atual modelo. Que o capital humano da empresa seja o seu grande diferencial competitivo e não alvo de preconceito internamente e motivo de chacota do tipo: “enferrujado”, “sem compromisso”, “grevista” e “por que você não se aposenta?”.
O Brasil passa hodiernamente pelo debate da desaposentação. A base da pirâmide social envelhece. A sociedade tende a reconhecer cada vez mais a experiência dos mais idosos, mas na Gerat Salvador esse capital humano diariamente é violentado, desrespeitado. Basta!
Certamente não mudaremos a nossa história funcional daqui para a frente, mas temos o orgulho de ter denunciado um processo que exigirá num curto espaço de tempo, mudanças para banir efetivamente e eficazmente, qualquer tipo de preconceito ou discriminação direcionados ao seu capital humano.
Queremos registrar que os fatos graves acima denunciados, são o coroamento de uma lamentável gestão que passou pela Gerat Salvador no seu último ano. As orientações sobre ética, liderança, respeito com as pessoas foram jogadas no “lixo”. O que se viu foi uma administração que cerceia a liberdade das pessoas, persegue e discrimina os participantes de movimentos sindicais/grevistas, inibe a livre expressão e autoritária, a ponto de se julgar suficientemente capaz para definir quem fica e quem sai da unidade.
Finalmente, a sociedade está nas ruas exigindo mudanças. O Banco do Brasil precisa passar por elas. Nós, funcionários estamos abertos para recebê-las, com profissionalismo, respeito e isonomia para todos. Outros colegas queriam assinar esta carta, mas optamos por não fazê-lo para evitar represálias. Viva a nossa DIGNIDADE.
Salvador BA, 07 de setembro de 2.013
Antonio Diógenes Varjão – Matr. 0.926.720-4
João Alberto de Carvalho – 4.718.470-1
Marcos Antonio de Oliveira Sá – Matr. 6.805.763-6
Maria Eliane Fagundes Cardoso Fernandes – Matr. 6.840.733-5”
